O Bumba-Meu-Boi do Piauí: poesia afro-brasileira, cantigas, gênese, memórias e narrativas de fundação do Boi de Né Preto de Floriano Piauí

Elio Ferreira

Resumo


Neste trabalho, conto as memórias da minha infância, relacionadas ao Boi de Né Preto, em Floriano, Estado do Piauí. Falo da gênese do Bumba-meu-boi e suas façanhas, dos relatos de testemunho de Seu Né Preto sobre o Boi-de-fogo. Percorro os locais de trabalho, a casa, a sala, a cozinha, o terreiro, o quintal da comunidade dos “brincantes” do Boi de Né Preto da cidade de Floriano, no Piauí. Esses “brincantes” eram formados, na sua maioria, pelas “fateiras”, mulheres que limpavam e comercializavam as vísceras do boi, e pelos homens que trabalhavam no matadouro, no abate do gado bovino. Essas atividades representavam a economia e o trabalho do grupo, traduzidas na construção da identidade negra. Costumamos dizer nas rodas de conversa, que o Boi de brincadeira nasceu mesmo no Piauí. Tal especulação pode ser fundamentada a partir da formação de uma estrutura econômica baseada na cultura do boi, na mão de obra escrava, na história e narrativas míticas da cultura popular deste Estado, cujas terras e pastagens durante a colonização, já na segunda metade do século XVII e na primeira metade do século XVIII, deram lugar ao maior e primeiro grande centro criatório de bovinos do Brasil. A história econômica e social, a memória oral, as narrativas, as lendas e mitos de fundação de origem negra e indígena relacionados à cultura do boi apontam para esse fato de que o Bumba-meu-boi tem sua gênese no Piauí e daqui o auto pastoril teria migrado para o Maranhão, Pará e outras regiões do Brasil.

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