“O monstro cruel devorou centenas”: o cólera e o medo na cidade de Crato, Ceará (1862)

Jucieldo Ferreira Alexandre

Resumo


O artigo oferece uma narrativa sobre as medidas administrativas, representações e medos instaurados pela passagem de uma epidemia de cólera na cidade de Crato, província do Ceará, no ano de 1862, ocasião em que se deu a irrupção mais violenta dessa patologia na localidade. A pesquisa dialoga com a Historiografia das Doenças, que defende que mais do que fenômenos orgânicos, as doenças seriam entidades abstratas que passam a existir a partir da ação humana de conceituar, representar e classificar os incômodos físicos comuns em seu tempo e espaço, procurando dar sentido e combate aos mesmos. Neste sentido, as doenças são também construções socioculturais que são vivenciadas de forma diversa por diferentes grupos sociais e em múltiplos tempos e espaços. A chegada da epidemia em Crato, no ano de 1862, instaurou um período de medo e tensão considerável, perceptível nos relatos sobre a matança de porcos, na construção de cemitério, na simplificação dos ritos fúnebres, no acúmulo de corpos em valas comuns, na fuga de padres e de autoridades públicas, nos conflitos de fronteira com Exu (província do Pernambuco), entre outras questões. Neste sentido, os moradores da localidade vivenciaram um período atípico em que a ordem social foi modificada, ao menos temporariamente, pelo medo e presença do cólera.

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